Criar um programa de educação não formal eficaz para jovens é um grande desafio. Ao preparar os programas, uma das primeiras reflexões a fazer deve ser sobre as competências a desenvolver e as suas três componentes (conhecimentos, aptidões e atitudes). Esta forma de pensar sobre as atividades para a aprendizagem não formal pode melhorar consideravelmente a qualidade e o impacto do seu trabalho.

 

Porquê definir os objetivos de aprendizagem?

O principal objetivo da educação não formal no trabalho com jovens é o desenvolvimento de competências, que são frequentemente consideradas como capacidades complexas que constituídas por três componentes – conhecimentos, aptidões e atitudes. 

Esta abordagem à definição de competências reflete o objetivo da educação não formal de educar os jovens como indivíduos com personalidades completas, que têm já conhecimentos, sabem algo, que têm potencialidades, podem fazer algo e que partilham um conjunto de valores. Quando se fala do desenvolvimento das competências de jovens no contexto da educação não formal, pensa-se normalmente em melhorar estas três componentes.

Exemplos

Apresentamos dois exemplos do mundo real para ilustrar o conceito tripartido de competências – a competência para conduzir um carro e a competência para prestar primeiros socorros. 

No que se refere ao primeiro exemplo, um condutor competente deve conhecer os sinais de trânsito e o seu significado, as regras de circulação rodoviária e, pelo menos, factos básicos sobre o seu carro, por exemplo, se funciona a gasolina ou a gasóleo. Um condutor competente deve também ser capaz de fazer várias coisas, por exemplo, ligar o carro, mudar de velocidade, estacionar, fazer marcha-atrás, abastecer, etc. Finalmente, um bom condutor deve ter as atitudes corretas, por exemplo, deve respeitar os regulamentos e os limites de velocidade, valorizar a segurança e ser atencioso para com os outros utentes da estrada.

Do mesmo modo, a competência para prestar primeiros socorros inclui alguns conhecimentos específicos, por exemplo, o que é uma posição de recuperação, qual é a taxa de compressão torácica ou qual é o número de telefone de emergência. Para além dos conhecimentos, um socorrista competente deve também possuir algumas aptidões – deve ser capaz de efetuar uma respiração de resgate, de fazer compressões torácicas numa posição correta ou de inclinar a cabeça da pessoa para levantar a língua da parte de trás da garganta. Mas os conhecimentos e as competências, por si só, não garantem que alguém preste os primeiros socorros em vez de fugir. Neste caso, a atitude de querer ajudar pode ser literalmente uma questão de vida ou de morte. 

Competências e objetivos de aprendizagem

Ao desenvolver as competências dos jovens, como a competência de trabalho em equipa, o primeiro passo é identificar o que é que eles precisam exatamente de aprender. Será que precisam de adquirir conhecimentos sobre as funções e os princípios do trabalho em equipa? Precisam de descobrir qual o papel que naturalmente assumem numa equipa? Precisam de praticar as competências necessárias para as funções que não lhes são tão típicas? Precisam de mudar a sua atitude em relação ao trabalho de equipa, preferindo trabalhar em conjunto a agir individualmente? Qualquer atividade de aprendizagem não formal deve ser concebida de acordo com as necessidades e prioridades dos participantes. 

Um programa centrado principalmente na sensibilização e informação sobre um tema terá um aspeto diferente de um programa que visa o desenvolvimento de atitudes.

Exemplo

Num determinado projeto, um grupo de voluntários quis organizar uma exposição sobre a pobreza nos países africanos num café local. O objetivo da exposição era sensibilizar a sociedade civil para a questão da pobreza, mas percebeu-se que o café era frequentado por jovens que já estavam envolvidos em vários projetos sociais e que, por isso, já eram sensíveis à pobreza. A exposição teria tido um efeito mínimo nas suas atitudes. Alterou-se então a ideia para apresentar a exposição num local frequentado por pessoas menos sensíveis às questões da pobreza. Contudo, pensou-se que uma exposição estática com fotografias e textos curtos, atrairia também mais a atenção das pessoas que já se interessam pelo tema. Além disso, o mais provável é que uma exposição terá mais poder para alargar os conhecimentos dos visitantes do que mudar as suas atitudes. É até possível que alguns visitantes mudem de opinião depois de verem as imagens da pobreza de algumas comunidades africanas, mas será que uma exposição é a forma mais eficaz de provocar a mudança nas atitudes face à pobreza? Não seria mais eficaz organizar um debate numa escola local ou realizar um jogo de simulação ou uma dramatização? 

Uma visão clara sobre se o objetivo de um programa é o desenvolvimento de conhecimentos, aptidões ou atitudes (ou na sua combinação) constitui o ponto de partida para todas as etapas seguintes na preparação de qualquer atividade de aprendizagem. Estes objetivos determinam quanto tempo será despendido em cada tópico, que métodos e técnicas serão utilizados e como serão sequenciadas as diferentes partes da atividade. Por isso, é muito importante definir os objetivos de aprendizagem de forma adequada e tão específica quanto possível. 

Como definir os objetivos de aprendizagem?

Taxonomia de Bloom e objetivos de aprendizagem

Para além de se definir as competências e as componentes de competência que se pretende desenvolver com a atividade, deve-se refletir sobre o nível dos resultados de aprendizagem esperados. Por exemplo, em termos de conhecimento, faz diferença se Os/As participantes devem aprender que algo existe, compreender como funciona ou saber como é utilizado na prática. Em termos de aptidão, podem aprender a fazer algo de acordo com as instruções ou de forma autónoma. No que diz respeito às atitudes, pode-se ambicionar a adoção de uma atitude ou incentivar a mudança de atitudes junto de outros.

Ao definir os níveis dos resultados esperados da aprendizagem, pode utilizar a Taxonomia de Bloom. Esta taxonomia foi criada em meados do século XX por um psicólogo americano, Benjamin Samuel Bloom, que trabalhava no domínio da psicologia educacional. Com base na sua taxonomia original, foram gradualmente desenvolvidas várias versões pelos seus seguidores. Apresentamos uma adaptação de uma versão que define níveis em três domínios – cognitivo (conhecimentos), psicomotor (competências) e afetivo (atitudes). 

Adaptámo-la para refletir o contexto específico da educação não formal no trabalho com jovens e testámo-la com diferentes grupos alvo ao longo de vários anos. Finalmente, chegámos a uma versão que é apresentada no quadro seguinte.

Blooms Taxonomy

A Taxonomia de Bloom na prática

Em seguida apresenta-se a aplicação do modelo em que, para cada nível de competência, é dada uma breve explicação e dois exemplos dos seguintes objetivos de aprendizagem:

  • Objetivo 1: “Aplicar uma abordagem de parceria no trabalho com jovens” 
  • Objetivo 2: “Preparar refeições vegetarianas saudáveis”. 

 

Conhecimentos

  1. CONSCIÊNCIA – O/A participante tem uma ideia básica de que algo existe ou alguma informação geral sobre o tópico. 

Exemplos de objetivos de aprendizagem: 

  1. a) Os/As participantes saberão que existe uma abordagem de parceria no trabalho com jovens e serão capazes de a descrever numa ou duas frases. 
  2. b) Os/As participantes saberão que existe uma dieta vegetariana saudável e serão capazes de explicar brevemente o que é.

 

  1. COMPREENSÃO – O/A participante compreende os princípios-chave e o contexto mais alargado do tópico, é capaz de o explicar com mais pormenor e pode dar alguns exemplos. 

Exemplos de objetivos de aprendizagem: 

  1. a) Os/As participantes serão capazes de explicar uma abordagem de parceria no trabalho com jovens e descrever o que a torna diferente de outras abordagens. 
  2. b) Os/As participantes serão capazes de dar exemplos de diferentes tipos de alimentos vegetarianos saudáveis e descrever em que consiste normalmente uma refeição vegetariana saudável. Serão capazes de explicar porque é que estas refeições são saudáveis e quais as refeições vegetarianas que não são saudáveis.

 

  1. APLICAÇÃO – O/A participante é capaz de identificar onde e como usar os diferentes aspetos do tópico na prática.

Exemplos de objetivos de aprendizagem: 

  1. a) Os/As participantes serão capazes de descrever situações em que uma abordagem de parceria é apropriada no trabalho com jovens.
  2. b) Os/As participantes serão capazes de especificar para quem uma dieta vegetariana saudável é adequada, em que medida e de que forma (por exemplo, adequação para adultos, crianças, mulheres grávidas ou pessoas com dietas específicas).

 

  1. ANÁLISE – O/A participante pode dividir o tópico em unidades mais pequenas, distinguir elementos individuais e descrever as relações entre eles. 

Exemplos de objetivos de aprendizagem: 

  1. a) Os/As participantes serão capazes de identificar diferentes elementos da abordagem de parceria numa situação observada.
  2. b) Com base numa receita específica, Os/As participantes podem identificar quais os princípios (caso existam) da preparação de alimentos vegetarianos saudáveis que são utilizados.

 

  1. SÍNTESE – O/A participante pode ligar informações parciais em unidades maiores, de acordo com critérios definidos.  

Exemplos de objetivos de aprendizagem: 

  1. a) Os/As participantes serão capazes de criar um conjunto de recomendações sobre como seguir uma abordagem de parceria na sua organização.
  2. b) Os/As participantes serão capazes de criar um menu de refeições vegetarianas saudáveis para um restaurante.

 

  1. AVALIAÇÃO – O/A participante pode utilizar critérios selecionados para avaliar a qualidade de um objeto, resultado ou comportamento, comparar qual a melhor opção ou recomendar melhorias.

Exemplos de objetivos de aprendizagem: 

  1. a) Os/As participantes serão capazes de identificar os pontos fortes e fracos de dois ou mais exemplos reais de uma abordagem de parceria e decidir qual deles é mais adequado para uma situação específica.
  2. b) Os/As participantes serão capazes de avaliar qual de dois restaurantes vegetarianos diferentes oferece refeições vegetarianas mais saudáveis com base num conjunto de critérios.

 

  1. TRANSFERÊNCIA – O/A participante pode transferir conscientemente alguns princípios do tópico para outras áreas ou grupos alvo.

Exemplos de objetivos de aprendizagem: 

  1. a) Os/As participantes serão capazes de sugerir como utilizar uma abordagem de parceria quando trabalham com crianças em idade pré-escolar ou numa empresa.
  2. b) Os/As participantes serão capazes de sugerir como os princípios de uma dieta vegetariana saudável podem ser aplicados à preparação de refeições não vegetarianas.

 

Aptidões 

1. OBSERVAÇÃO – O/A participante tem uma experiência passiva elementar adquirida através da observação de uma atividade realizada por outros atores. 

Exemplos de objetivos de aprendizagem: 

  1. a) Os/As participantes participarão num programa em que é utilizada uma abordagem de parceria.
  2. b) Os/As participantes vão observar alguém a preparar um almoço vegetariano saudável.

 

2. EXPLORAÇÃO – O/A participante tenta realizar a atividade por si próprio.

Exemplos de objetivos de aprendizagem: 

  1. a) Os/As participantes tentarão utilizar uma abordagem de parceria numa situação modelo ou numa atividade de trabalho de grupo no âmbito de um curso de formação.
  2. b) Os/As participantes ajudarão um amigo experiente a preparar uma refeição vegetariana saudável.

 

3. PRÁTICA ASSISTIDA – O/A participante pode realizar a atividade sob a supervisão de uma pessoa experiente ou com a ajuda de um manual de instruções.

Exemplos de objetivos de aprendizagem: 

  1. a) Os/As participantes serão capazes de utilizar uma abordagem de parceria com a orientação de um colega mais experiente que os ajudará a conduzir uma atividade de trabalho com jovens.
  2. b) Os/As participantes serão capazes de preparar um almoço vegetariano saudável seguindo as instruções de uma receita.

4. PRÁTICA INDEPENDENTE – O/A participante pode realizar a atividade de forma independente em diversas situações práticas. 

Exemplos de objetivos de aprendizagem: 

  1. a) Os/As participantes serão capazes de aplicar os princípios de uma abordagem de parceria quando trabalham com jovens na sua organização.
  2. b) Os/As participantes serão capazes de confecionar várias refeições vegetarianas saudáveis sem uma receita.

5. PRÁTICA DE ROTINA – O/A participante pode realizar a atividade de forma rotineira, sem ter de pensar nela.

Exemplos de objetivos de aprendizagem: 

  1. a) Os/As participantes serão capazes de utilizar rotineiramente uma abordagem de parceria quando trabalham com diferentes grupos de jovens ou em diferentes tipos de projetos.
  2. b) Os/As participantes serão capazes de utilizar os princípios de preparação de refeições vegetarianas saudáveis, mesmo quando cozinham refeições com carne.

 

6. RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS – O/A participante é capaz de agir de forma flexível mesmo em situações difíceis e inesperadas ou quando algo não está a funcionar. 

Exemplos de objetivos de aprendizagem: 

  1. a) Os/As participantes serão capazes de ajustar de forma flexível a sua abordagem de parceria quando trabalham com participantes difíceis.
  2. b) Os/As participantes serão capazes de preparar um almoço saboroso para um grupo de pessoas que são vegetarianas e que gostam de comer carne. 

 

7. MODIFICAÇÃO CRIATIVA – O/A participante pode propor novas formas de realizar a atividade.

Exemplos de objetivos de aprendizagem: 

  1. a) Os/As participantes serão capazes de alargar a abordagem de parceria a novos campos e situações, por exemplo, a um clube desportivo.
  2. b) Os/As participantes serão capazes de preparar uma refeição vegetariana saudável para um grupo de amigos não vegetarianos de forma a que estes fiquem satisfeitos.

 

Atitudes

1. CONSCIÊNCIA – O/A participante está consciente da existência de uma atitude partilhada por outras pessoas.

Exemplos de objetivos de aprendizagem: 

  1. a) Os/As participantes vão perceber que os membros da equipa valorizam uma abordagem de parceria com os jovens.
  2. b) Os/As participantes aperceber-se-ão de que algumas pessoas preferem refeições vegetarianas.

 

2. CONSIDERAÇÃO – O/A participante reflete sobre se e de que forma uma atitude chama a sua atenção e considera a possibilidade de abrir a sua mente a essa atitude.

Exemplos de objetivos de aprendizagem: 

  1. a) Os/As participantes reconhecerão que uma abordagem de parceria pode ser apropriada quando se trabalha com jovens.
  2. b) Os/As participantes estarão dispostos a provar uma refeição vegetariana saudável.

 

3. IMITAÇÃO – O/A participante imita uma atitude, seguindo o comportamento de outras pessoas.

Exemplos de objetivos de aprendizagem: 

  1. a) Os/As participantes utilizarão uma abordagem de parceria nas atividades de trabalho com jovens organizadas pela sua organização se os seus colegas lhes disserem para o fazer.
  2. b) Se todos os elementos do grupo pedirem uma refeição vegetariana num restaurante que ofereça refeições vegetarianas e não vegetarianas, Os/As participantes farão o mesmo.

 

4. PREFERÊNCIA – O/A participante escolhe um comportamento com base numa atitude, mesmo que existam outras opções.

Exemplos de objetivos de aprendizagem: 

  1. a) Os/As participantes escolherão conscientemente uma abordagem de parceria quando estiverem a trabalhar com jovens.
  2. b) Os/As participantes escolherão uma refeição vegetariana saudável se esta for oferecida como opção (por exemplo, num restaurante, num evento, no que cozinham em casa).

 

5. AUTO-IDENTIFICAÇÃO – O/A participante adota uma atitude como parte da sua personalidade e tende a agir em conformidade em todas as situações possíveis.

Exemplos de objetivos de aprendizagem: 

  1. a) Os/As participantes tenderão a tratar os jovens como parceiros em qualquer situação.
  2. b) Os/As participantes tenderão a cozinhar alimentos vegetarianos saudáveis

 

6. ADVOCACIA – O/A participante está disposto a defender uma atitude, se necessário (mas não a promove ativamente).

Exemplos de objetivos de aprendizagem: 

  1. a) Os/As participantes defenderão uma abordagem de parceria com os jovens quando a direção da sua organização tentar introduzir regras de comportamento mais rígidas.
  2. b) Os/As participantes irão argumentar contra a retirada de refeições vegetarianas saudáveis do menu da cantina da escola.

 

7. DISSEMINAÇÃO – O/A participante toma a iniciativa voluntária de divulgar uma atitude em diferentes situações. 

Exemplos de objetivos de aprendizagem: 

  1. a) Os/As participantes explicarão ativamente aos seus colegas porque é que uma abordagem de parceria com os jovens é importante nas atividades de trabalho com jovens e o que é que isso implica.
  2. b) Os/As participantes persuadirão proactivamente os seus amigos e familiares a comer comida vegetariana saudável.

 

Porque é que a taxonomia de Bloom é útil?

Acordo entre a equipa e preparação

Definir objetivos de aprendizagem adequados é como ganhar metade de uma batalha. Quanto mais energia se colocar no processo de clarificar para onde se quer conduzir os/as participantes, mais facilmente passará pelas etapas seguintes da preparação da atividade de aprendizagem não formal. Se alguém da equipa preparar uma parte do programa, esta conduzirá ao mesmo objetivo que as outras partes preparadas por outras pessoas, mesmo que estas utilizem métodos diferentes. Mesmo que a equipa não prepare cada parte em conjunto, tudo estará estreitamente interligado. 

Experiência e tempo

Há duas coisas muito importantes que deve ter em conta ao definir os objetivos de aprendizagem para os seus eventos. O primeiro é a experiência dos/das participantes. Faz uma grande diferença se são novos no tema, se têm alguma experiência anterior ou se são um grupo misto de pessoas recém-chegadas e profissionais especializados. O grau de experiência dos/das participantes terá um enorme impacto no nível de desenvolvimento a que se pode aspirar. A segunda coisa que deve ter em conta é o tempo. É certamente possível obter mais resultados numa formação de uma semana do que num programa de fim de semana de cerca de 20 horas. De acordo com a nossa experiência, o maior efeito no desenvolvimento de competências é obtido através de uma formação a longo prazo composta por várias fases.

Ambição dos objetivos e duração do evento

Ensinar jovens voluntários/as, sem qualquer experiência prévia em pedagogia experiencial, a preparar, implementar e avaliar um evento experiencial de vários dias num curso de formação de fim de semana, será difícil de alcançar. É um objetivo demasiado ambicioso. Depois de um curso de fim de semana, podem ser capazes de preparar, implementar e avaliar uma atividade curta (por exemplo, uma hora) com a ajuda de um/a colega ou mentor/a mais experiente mas, não um grande evento experimental de vários dias. 

Em alternativa, pode manter o objetivo original e ajustar o tempo. Se realmente precisa de ensinar novos voluntários/as a preparar, implementar e avaliar um evento experimental de vários dias, provavelmente terá de prolongar a formação por vários fins-de-semana para atingir esse objetivo. 

Em qualquer dos casos, é extremamente útil transformar os objetivos gerais de aprendizagem em componentes de competência e especificar os seus níveis. Os/As participantes devem ser capazes de preparar, implementar e avaliar um evento experimental de forma independente ou em equipa? Como uma equipa de organizadores/as principiantes ou em conjunto com membros mais experientes da equipa? De que conhecimentos e competências necessitam para desempenhar adequadamente as suas funções e que atitudes devem possuir? As respostas a estas e outras perguntas semelhantes dar-lhe-ão uma ideia mais precisa do tempo necessário para a formação.  

Conselhos práticos

Definição de objetivos para partes de uma atividade educativa

Na prática, é útil definir os objetivos de aprendizagem de acordo com a taxonomia de Bloom, não só para o programa global de aprendizagem, mas também para blocos ou secções individuais do programa. Por exemplo, se o programa incluir uma sessão sobre como receber e dar feedback pessoal, pode pensar se quer que os/as participantes compreendam as suas regras (compreensão) ou saibam em que situações podem utilizá-lo (aplicação). Quer que experimentem o feedback pessoal dado por um membro da equipa (exploração) ou devem tentar dá-lo e recebê-lo com a orientação do seu colega (prática assistida)? E quer que apenas descubram que o feedback pessoal pode ser bom e útil (consciencialização) ou que o prefiram no contexto do trabalho com jovens (preferência)? Mais uma vez, estas considerações irão afetar o tempo necessário no programa para uma determinada sessão e os métodos que deve escolher. Se quiser que os/as participantes prefiram o feedback pessoal como uma ferramenta para o desenvolvimento pessoal, tem de garantir que aprendem a recebê-lo e a dá-lo em várias situações e, ao mesmo tempo, a senti-lo como benéfico e útil. 

Temas de ligação

Ao pensar nos objetivos dos blocos individuais do programa, pode aperceber-se de que não tem tempo suficiente para abordar tudo o que pretende. Para além de reduzir os níveis de competência ou prolongar o tempo de aprendizagem, pode considerar voltar a um tópico do bloco de aprendizagem noutras partes do programa. Por exemplo, pode introduzir os princípios do feedback pessoal numa sessão de aprendizagem “teórica” e depois utilizar outra atividade relacionada com um tópico diferente para praticar o feedback pessoal como parte da fase de reflexão. Não só poupará tempo, como também ligará os diferentes blocos entre si, o que é obviamente uma vantagem. 

Participantes com experiências variáveis

Se trabalhar com um grupo heterogéneo em que os/as participantes têm diferentes experiências com o tema, pense em como envolver as pessoas mais experientes para evitar que se aborreçam.  Pode colocá-las em grupos com as novas no tema para as ajudar ou explicar-lhes alguns pormenores. Outra opção é oferecer dois blocos de programas paralelos com diferentes níveis de resultados de aprendizagem – um para principiantes e outro para participantes mais avançados.

Em contextos educativos reais, o grupo de participantes nunca será completamente homogéneo. Cada um vem de um meio ligeiramente diferente, tem interesses ligeiramente diferentes e utilizará o que aprendeu de formas diferentes. É perfeitamente normal que cada participante tenha as suas necessidades de aprendizagem específicas, e pode até trabalhar propositadamente com este facto. Nos cursos de formação, deve ser prática comum perguntar aos/às participantes o que é que precisam e querem aprender especificamente. Desta forma, ajudamos a assumir a responsabilidade pela sua própria aprendizagem e, ao mesmo tempo, ficamos a saber como adaptar o programa às suas necessidades. Na maior parte das vezes, não alteramos os objetivos gerais, mas isso ajuda-nos a selecionar exemplos relevantes, a reservar espaço adequado para perguntas ou mesmo a dirigirmo-nos individualmente aos/ás participantes, se as suas necessidades específicas não forem relevantes para todo o grupo.

Exercício

  1. Defina os objetivos de aprendizagem do seguinte cenário:

Imagine que lhe foi pedido que realizasse um workshop de duas horas para uma organização com as seguintes características: 

Grupo alvo: Voluntários/as com idades compreendidas entre os 18 e os 30 anos que tenham participado num projeto gerido pela organização e que estejam interessados/as em liderar um projeto semelhante. O tamanho do grupo é de cerca de 8-10 pessoas.

Contexto: As pessoas estão motivadas e entusiasmadas e espera-se que comecem em breve a trabalhar juntos num projeto. Para poderem levar a cabo o projeto com êxito precisam de criar uma equipa.

Objetivo: Reforçar o trabalho de equipa entre os membros da nova equipa.

Com base nesta descrição, a sua tarefa é definir um objetivo de aprendizagem relacionado com os conhecimentos, um relacionado com as competências e um relacionado com as atitudes e especificar o seu nível de acordo com a taxonomia de Bloom. 

Solução possível:

Conhecimentos: Os/As participantes estarão conscientes dos benefícios do trabalho em equipa. Conhecerão o seu papel na equipa e exemplos típicos de tarefas desempenhadas nesse papel em projetos de trabalho com jovens. (Nível: consciência)

Competência: Os/As participantes experimentam o trabalho em equipa numa curta atividade de grupo. (Nível: exploração)

Atitude: Com base na sua reflexão sobre a experiência de trabalho em equipa durante o workshop, os/as participantes estarão dispostos a utilizar o trabalho em equipa nos seus futuros projetos de trabalho com jovens. (Nível: imitação)

 

Fonte:

Este artigo foi escrito por Tomáš Pešek, Tibor Škrabský, Monika Novosádová e Jolana Dočkalová na publicação Slabikář neformálního vzdělávání (2019, YouthWatch e Associação de Educação Não-Formal) em checo e eslovaco. 

Tradução: (inglês) Škrabský, YouthWatch, 2023; adaptação para português por Team MAIS

Correções linguísticas (inglês): Eva Potužníková, Associação de Educação Não-Formal, 2023